segunda-feira, julho 02, 2007
O BOM PASTOR (THE GOOD SHEPHERD)
God Bless America.Um filme de espionagem sem explosões, corridas de carro, metralhadoras pipocando e outros artificios que fazem a fortuna da Magic Light e suas congêneres. E que filme. Apesar de mostrar a criação da CIA até o desastre da Baia dos Porcos, em Cuba, o filme não é um documentário. A estória circula na volta de Edward Wilson (Matt Damon) desde sua entrada na Universidade de Yale até a sua condução a diretor da área de contra espionagem da C.I.A.. Matt Damon está ótimo como o espião que não fala e não tem como não lembrar O Samurai de Alain Delon. A direção é de Robert De Niro, que também atua no filme como o general Bill Sullivan, que representa, até pela semelhança de nomes, o criador da C.I.A. na vida real, Wild Bill Donovan.
A parte da estória que ocorre em Yale é significativa para todo o filme. Em Yale está a classe rica americana. A fraternidade quente é a Skull and Bones. Só participam americanos no conceito mais racista possível. Brancos, Anglo-saxônicos e protestantes. Negros, judeus e imigrantes não são permitidos obviamente. Tem uma frase memorável em uma parte do filme onde Joseph Palmi, o personagem de Joe Pesci, provoca Edward "- Nós italianos temos a familia e a igreja, os irlandeses a terra natal, os judeus a tradição, até os negros tem a música, e vocês o que tem?" "-Nós temos a América, vocês são apenas visitantes." E é isto. Na Skull and Bones, Edward é iniciado. A iniciação é uma batalha entre calouros nús no meio do barro. Insinuação clara de homosexualidade na fraternidade dos jovens ricos que representam o poder americano. Deveriamos acrescentar mais uma letra ao WASP? É tempo da segunda guerra, Edward é recrutado pelo General Sullivan para integrar o Office of Strategic Services, embrião do que viria a ser a C.I.A.. O O.S.S foi uma oportunidade para os americanos aprenderem com os ingleses a arte da espionagem e da contra-espionagem. Os convidados para integrarem o O.S.S. são todos americanos no conceito que já falei. "- nada de judeus, nem negros, só nós" diz um outro membro da fraternidade recrutado. A partir dai uma frase é permanente no filme. "-Não confie em ninguem". E o filme está cheio de provas que realmente não se pode confiar em ninguem, pelo menos quando se trata de espionagem e contra-espionagem. Nós poderiamos acrescentar a política, não? O filme mantem claramente em dúvida quem manda na C.I.A.. O presidente, as grandes empresas, o povo? Algumas empresas estão com um problema num pais latino americano produtor de café. Imaginem.. o tal pais quer tomar suas próprias decisões. A solução: gafanhotos. O nosso senador Antônio Magalhães levantou suspeitas com relação a vassoura-de-bruxa que surgiu na Bahia em 1989 e infectou as plantações de cacau reduzindo a produção de 800.000 t para 180.000 t. E, pelo menos nisso, eu acredito que ele tenha razão, embora a introdução da praga não tenha necessariamente sido feita pelo grupo revolucionário que ele acusa.
Voltando ao filme. A estória se passa em dois momentos principais. Em Yale e na Segunda Guerra, e depois em 1961, que seria o tempo presente do filme,no fracasso de Baia dos Porcos em Cuba. Existem cenas de arquivo de Fidel Castro com a inserção, tipo o que foi feito por Woody Allen em Zelig, de um personagem da estória no filme de Fidel. Angelina Jolie é a filha de um senador e irmã de um membro da Skull and Bones que casa com Edward. Está bem num papel muito diferente do que ela costuma fazer. O filme está cheio de astros. William Hurt, Alec Baldwin, John Turturro.. por falar em John Turturro ia me esquecendo de uma cena memorável. John Turturro faz o papel de Ray Brocco, um sargento que é o subordinado de Edward, para tarefas especiais. Um suposto agente inimigo é violentamente torturado, numa operação sob o comando da C.I.A., com porradas e afogamentos extremamente explicitos, na linha dos treinamentos dados pela Agência aos militares das gloriosas revoluções latino americanas.
Absolutamente imperdível. É um filme de 3 horas de duração, complexo, lento em algumas partes, mas que vale a pena.
Até a próxima postagem.
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