quinta-feira, maio 03, 2007
PERFUME - A HISTÓRIA DE UM ASSASSINO
Perfume - A História de um Assassino foi o filme com mais citações em nosso orçamento participativo. Ele é baseado no livro Perfume do autor alemão Patrick Suskind. O livro foi lançado em 1985 e foi sucesso mundial, inclusive no Brasil. Ninguem havia se arriscado a filma-lo até agora porque se há uma coisa que o cinema ainda não alcançou, apesar de já estar prometendo, são os cheiros. E o livro e o filme são basicamente sobre cheiros e perfumes. Perfume - A História de um Assassino é uma co-produção alemã, francesa e espanhola mas, apesar desta origem, objetivando uma maior distribuição internacional, o filme é todo falado em inglês. O diretor é o alemão Tom Tykwer, bastante nosso conhecido pelo excelente Corra Lola, Corra. O DVD é uma distribuição da Paris Filmes, que é uma daquelas empresas que, conforme eu já falei aqui na postagem De Buenos Aires à Janio Quadros, não tem a menor consideração pelo consumidor. Somos obrigados a assistir 2 propagandas, uma sobre secador de cabelos e outra sobre uma pousada e mais dois trailers, sendo um o terrível Tartarugas Ninja dublado. A Paris Filmes não permite nem avançar rápido quanto mais saltar direto para o filme. Meu conselho: Ligue o DVD e vá tomar um café, você tem 5 minutos.
O filme começa na Paris do século XVIII. Ali nasce Jean Baptiste Grenouille, no exato momento em que sua mãe está vendendo peixes em sua banca à beira do Sena. Ela se deita debaixo de seu balcão, tem Jean Baptiste, rompe o cordão umbilical, abandona-o no meios de restos de peixes e outras sujeiras e..continua atendendo. Ela já teve seis filhos desta maneira e todos nasceram mortos ou morreram em seguida. Jean Baptiste não.. ele começa a chorar tão alto que as pessoas o descobrem e entendem logo que houve uma tentativa de assassinato. A mãe de Jean Baptiste é sua primeira vitima. Ela é condenada à forca. Jean Baptiste é criado num orfanato medieval onde, na realidade, crianças são exploradas e vendidas. Jean Baptiste só vai falar com 12 anos mas ele já sabe que tem um dom. Ele consegue sentir, localizar e classificar todos os cheiros a qualquer distância. Ele é então vendido para um curtidor de couros onde vai descobrir novos cheiros. O narrador do filme (John Hurt) nos informa que para Jean Baptiste não existem cheiros bons ou ruins, existem apenas cheiros e os importantes são os cheiros novos. Percebemos ai mais uma sina de Jean Baptiste. A dona do orfanato é assassinada imediatamente após a venda. A vida do trabalhador no curtume, devido as péssimas condições, não ultrapassa nunca cinco anos. Isto não vale para Jean Baptiste, ele já mostrou que é um sobrevivente. Nas entregas para o curtume Jean Baptiste é atraido pelo cheiro de uma lindissima mulher. O diretor e o ator (Ben Whishaw) conseguem transmitir com maestria que é o melhor cheiro que Jean Baptiste já sentiu. Ele acompanha a mulher, aproxima-se dela e, enebriado, sem ela perceber, cheira-a sofregamente. Quando a mulher o percebe se assusta e, tentando impedi-la de gritar, Jean Baptiste acaba matando-a acidentalmente. A morte não o afeta. Ele continua cheirando-a por todo o corpo e deliciando-se com isto. A cena é sensacional. Jean Baptiste então percebe que o cheiro que o agradou tanto desaparece. Ele se desespera. Não me lembro se esta idéia existia no livro mas no filme a conotação religiosa é clara. O cheiro que Jean Baptiste sente não é aquele do corpo que todos nós sentimos é o cheiro da essência, da alma. E com a morte este cheiro desaparece.
Jean Baptiste fica obcecado em encontrar uma forma de conservar aquele tipo de cheiro. A forma mais óbvia que seria manter as pessoas vivas parece que não lhe ocorre. É quando ele conhece o mestre perfumista Giuseppe Baldini (Dustin Hoffman). Baldini, outrora a grande estrela do cenário de perfumes de Paris, agora está em ostracismo. Ele percebe o dom de Jean Baptiste e o compra do homem do curtume - que morre em seguida é claro. A cena onde Baldini descreve os doze componentes que formam o perfume e os compara a notas musicais é brilhante. Enquanto Baldini extrai de Jean Baptiste novas fórmulas de perfumes que lhe trazem o sucesso e riqueza de volta, este aprende formas de conservar os cheiros através da destilação. Mas isto não funciona para o tipo de cheiro que Jean Baptiste quer conservar. Baldini lhe fala então da técnica da "enfleurage" que é praticada em Grasse no sul da França. Jean Baptiste parte para Grasse e, no meio do caminho, numa caverna no meio das montanhas onde ele consegue ficar isolado de todos os cheiros ele descobre sua outra característica.. ele não tem nenhum cheiro. Ou seja, se vocês aceitarem a minha interpretação religiosa acima.. ele não tem alma. É um demônio? As conotações religiosas são inúmeras. No inicio do filme Jean Baptiste está sendo conduzido para praça pública onde vai ser morto. Como? Numa cruz. Mas voltando a Grasse, Jean Baptiste é iniciado nas artes da "enfleurage" e descobre finalmente como captar a essência das pessoas. São doze notas que compôe um perfume, treze notas para o perfume divino, portanto treze mulheres a serem mortas por Jean Baptiste. Contar mais não tem sentido pois estragaria todas as surpresas que a estória apresenta entre as quais duas ou três viradas surpreendentes nos dez minutos finais.
Aproveitem. Até a próxima postagem.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Uma sugestão para o Cineman: uma etiqueta com o tempo que o DVD tem de bobagens antes do filme. Tempo para fazer uma pipoca no microondas, colocar em um grande pote, acomodar as almofadas e, para os que têm o dom (e o equipamento), fazer um bom café.
Quem sabe a moda se espalha e não sensibiliza as brilhantes mentes das produtoras?
Ler os comentários do blog ouvindo Piazzolla é simplesmente o máximo. Como não sou um fanático por tangos, gosto de pensar que as músicas do Piazzolla, em especial esta Balada para un loco e adiós noniño não são tangos.
Postar um comentário