sábado, março 17, 2007

UMA VERDADE INCONVENIENTE E OS EUCALIPTOS DA DISCÓRDIA


O documentário Uma Verdade Inconveniente, que será lançado em DVD pela Paramount no dia 28 de maio, ganhou o Oscar desta categoria na última premiação. O astro do documentário é Al Gore, ex vice-presidente dos Estados Unidos que vem percorrendo o mundo com uma apresentação sobre os riscos do aquecimento global. O trailer que vocês viram em postagem anterior já dá uma boa idéia do impacto deste documentário que está sendo lançado em DVD. A sintese da apresentação de Al Gore é: Ou o homem começa agora a confrontar o aquecimento global ou em pouco tempo, talvez muito pouco tempo, verá as consequências desastrosas de sua ação descuidada.
Al Gore introduziu um conceito interessante, que é o que passou a motivar o mundo desenvolvido, de que a preocupação com o meio ambiente é altamente vantajosa do ponto de vista econômico-financeiro. Este enfoque era o que faltava para os Estados Unidos, principal emissor de dióxido de carbono, que não assinou nem o Protocolo de Kyoto, viesse a colocar o meio ambiente na sua agenda. Agora não é mais apenas uma preocupação, entre aspas, com o que fazemos com a Amazônia.
Al Gore é também um divulgador da Teoria da Compensação criada por um grupo de economistas ingleses à qual já nos referimos na postagem de My Name is Earl. Nesta altura aqueles que costumam ler integralmente este blog já devem estar se perguntando. "- Ei, porque nosso blogueiro preferido de cinema está falando nisto novamente?"
Nos jornais desta semana saiu uma noticia sobre os assentados de Pedro Osório, na Metade Sul do Estado, que teriam destruido as mudas de eucalipto plantadas em 100 hectares do assentamento. Na ZH a noticia transmitiu a idéia de um movimento de protesto por parte dos assentados. Vejam uma frase magnífica que apareceu na reportagem atribuida a um assentado "-Morre bebedor de água". Mas não foi nada disto. Não houve protesto. Há 3 semanas o INCRA mandou um recado curto e grosso para as 13 familias de assentados que haviam cometido o crime hediondo de plantar árvores. "- O cultivo de espécies exóticas viola as regras de assentamento e vocês estão sujeitos a perder o lote". Contra a força não há argumentos. O máximo que puderam fazer os pobres assentados foi ajudar os 160 militantes do MST a destruir seu trabalho. Estão lembrados de Al Gore? Da Teoria da Compensação?
Plantar árvores é uma das atividades mais recomendadas para controlar as emissões de dióxido de carbono. Então porque ser contra? Porque o MST e os pseudo ambientalistas são contra? As respostas são muitas indo desde "-O plantio de eucaliptos forma desertos verdes", passando por "-É uma espécie exótica" até o demagógico "- Não dá comida para o povo".
Deserto verde? Todo mundo conhece o mel de eucalipto. Não tão deserto não é? Pelo menos as abelhas parecem sobreviver muito bem. Espécie exótica? Sim. Não é originário daqui. Mas o eucalipto foi introduzido há pelo menos cem anos no Estado. Só para lembrar, o soja chegou aqui há apenas 50 anos. Alguém ai ouviu o INCRA ser contra o plantio de soja não transgênico nos assentamentos? Comida para o povo? Um dos programas mais badalados do governo, e suponho que apoiado pelo INCRA, é o plantio de mamona para bio-diesel. Por sinal, programa altamente discutível do ponto de vista ambiental.
A boa noticia é que a empresa Votorantim já está colocando seus advogados em ação para dar proteção jurídica aos assentados que pretendam conservar suas plantações exóticas.
Ei, Al Gore poderia colocar as imagens da destruição dos eucaliptos de Pedro Osório em sua apresentação. É um belo exemplo de agressão ao meio ambiente.
Até a próxima postagem.

P.S. Vi hoje, 3 de abril, a lei n. 11.326 de 24 de julho de 2006, assinada pelo Presidente Lula que mostra que o delegado do INCRA do Rio Grande do Sul náo le as proprias regras. Eis o que diz a lei que tem por objetivo estabelecer as diretrizes para a formulação da Politica Nacional da Agricultura Familiar - "- São tambem beneficiários desta lei silvicultores que cultivem florestas nativas ou exoticas e que promovam o manejo sustentavel daqueles ambientes."

4 comentários:

Carlos Silva disse...

como resposta aos eco-terroristas, a Votorantin decidiu não anunciar - por enquanto - a localização de sua futura fábrica de celulose. Minha impressão, desde que começaram estas bobagens neo-conservacionistas, é que a VCP irá fazer sua fábrica no Uruguai, que comprou briga até com a Argentina para manter suas "papeleras" no território.

Papel sempre vai ser utilizado pela sociedade moderna, até mesmo para fazer panfletos contra a agricultura do eucalipto. Se não for com eles, vai ser com madeira nativa?

Enquanto isso, o bioma pampa está perdendo seu principal personagem: o homem, que migra para as grandes cidades em busca da sobrevivência, agravando, com sua presença nestes espaços já saturados, o meio ambiente... equação difícil esta, não?

E, se assim pensavam os neo-conservadores, principalmente os que partidarizaram politicamente a questão, porque os assentamentos realizados na região? bem, estes não ameaçam o bioma pampa, pois nada plantam, mesmo...

Anônimo disse...

Reforma Agrária, assim com letra maiúscula, é uma coisa muito complicada. É um problema técnico e econômico. Não é um problema politico nem religioso. O primeiro problema a enfrentar é a seleção do futuro assentado. Para ganhar um lote de terras o candidato tem que ser agricultor. Agricultura não é para qualquer um. É um trabalho muito duro , precisa estar no sangue senão não vai funcionar. Um teste muito simples é dar uma enxada (não foice) para o pretendente à um lote e manda-lo capinar uma hora. Dai é só ver a área que ele conseguiu capinar e o estado das mãos. Outro, aproveitando o exemplo, seria mandar cortar um pé de eucalipto, não as inocentes mudinhas do assentamento do Pedro Osório, mas um senhor pé de eucalipto. Acho que muitos poucos passariam.
Nada mais que uma exigência normal em todo o processo produtivo - qualidade de matéria prima. Foi assim que os gauchos da zona colonial, que eram agricultores genuinos, colonizaram ou se assentaram, sem ajuda oficial, no oeste de Santa Catarina, Paraná , Mato Grosso, Pará, Maranhão etc...
Depois viria a parte do governo. Assistencia técnica que hoje é precária, financiamentos dirigidos e, principalmente, organização para produzir para o mercado.

Carlos Silva disse...

No assentamento de Herval, tinham muitos eucaliptos e muitas árvores nativas. Os assentados venderam todas mas... não cortaram nenhuma! venderam "em pé" para os madeireiros cortarem.

Anônimo disse...

Nada de estranhar Buggyman. Como o pessoal não é muito dado as lides agrícolas talvez não soubesse diferenciar as exóticas das gaudérias.