domingo, janeiro 28, 2007

O SAMURAI (Le Samouraï)


O dominio do cinema americano não teve sempre esta magnitude dos dias de hoje. Outros países produtores tinham uma participação significativa no mercado cinematográfico de então. Havia os italianos.. ah, os italianos.. as comédias, os diretores e principalmente as mulheres italianas. Vitorio De Sica, Antonionni, Fellini, Gina Lolobrigida, Sofia Loren enchiam os cinemas. Os mexicanos, incrivel, tinham seu espaço também. A PELMEX, os dramalhões com Maria Felix (la mujer mas mujer) e Arturo de Cordoba, os mariachis que comecei a ver com Pedro Infante e depois com Miguel Aceves Mejias. O cinema nacional tinha um "market share" muito bom com a Atlantida, Oscarito e Grande Otelo e até Ankito e Zé Trindade. E tinha também, com uma posição muito boa, os filmes franceses. Principalmente os policiais franceses - os policiais franceses eram diferentes. Não perdiamos nunca. Jean Gabin e Lino Ventura são os que eu tenho guardado na memória. Infelizmente, no que se refere aos policiais franceses muito pouca coisa foi lançada no Brasil em VHS ou DVD. Só no ano passado foi lançado em DVD um filme que foi um dos maiores sucessos na época, confrontando com qualquer produção americana - Rififi. Salário do Medo que é um suspense sensacional, na minha opinião o melhor que eu vi, tinha saido numa cópia apenas razoável em VHS. Pois agora uma nova produtora, a Silver Screen Collection, está prometendo nos trazer de volta algumas coisas interessantes daquela época. Já estão ai Atirem no Pianista de Truffaut, O Jovem Soldado de Godard e O Samurai. O Samurai é um clássico do film noir europeu. Jean-Pierre Melville, diretor deste filme, era um apaixonado pelos filmes de gangster americanos da década de 30 e foi ele, Melville, a fonte onde muito bebeu a Nouvelle Vague. Aliás, todos os diretores da Nouvelle Vague que vieram depois também reverenciavam alguns diretores americanos, como Samuel Fuller, que não tinham nenhum reconhecimento nos Estados Unidos. Um detalhe interessante é que o "Melville" era um nome artístico tomado emprestado do autor de Moby Dick.
O Samurai foi lançado em 1967 e, nos Estados Unidos, numa versão dublada, como de praxe, mas totalmente cortada. Só 30 anos depois foi liberada a versão integral. Pais da liberdade de expressão, não é? Alain Delon interpreta Jef Costello, o Samurai, um assassino de aluguel que segue o rigido código de honra dos samurais. Na cena inicial do filme aparece uma citação que expressa com perfeição o personagem -"Il n´y a pas de plus profonde solitude que celle du samouraï si ce n´est celle d´un tigre dans le jungle... peut être.. Le Bushido (Le livre de somouraï)" ou, traduzida - não existe maior solidão que a do samurai a não ser talvez a do tigre na floresta...talvez ". A solidão de Jef Costello passa por todo o filme. As cenas iniciais são absolutamente geniais, na apresentação e marcação do carácter do personagem, um perfeccionista. Não é dita uma palavra durante os primeiros dez minutos do filme. Aliás são ditas muito poucas palavras durante todo o filme. É pura ação então? Também não. Existe muito poucas cenas de ação e as que existem são comuns. Nenhuma pirotecnia. E o filme é grandioso. É suspense de primeira. Melville tem um cuidado com os detalhes que prendem a atenção. As cenas são longas, muitas vezes com a camera imóvel, mas não são cansativas. O suspense está sempre presente. Existem muitas cenas que poderiam ser destacadas como, por exemplo, as complicadas manobras da policia para seguir Jef Costelo pelo metro de Paris e as artimanhas do mesmo para ludibriar os "flics", a conversa do inspetor com a namorada de Jef (Natalie Delon, mulher de Alain Delon na época) tentando convence-la a dizer a verdade quanto a presença ou não de Jef na sua casa na hora do crime. Uma cena curiosa é que no inicio do filme é apresentado um pássaro que está no quarto de Jef. Jef o alimenta antes de sair. Ora, nem tudo está perdido. O assassino gosta de passarinhos. Depois vamos ver que não é bem assim.
Certamente um filme que eu recomendo.

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