segunda-feira, abril 11, 2011

A ÁRVORE DOS TAMANCOS

Continuando a série - Postagens antigas - estou fazendo um repost de A Árvore dos Tamancos. Foi uma postagem que suscitou algum debate sobre o conceito de feudalismo. É um grande filme que merece ser visto.

A ARVORE DOS TAMANCOS (L´albero degli zoccoli) - 11/04/2007

O filme A Arvore dos Tamancos é uma preciosidade. Eu conheço Ermanno Olmi, diretor de A Árvore dos Tamancos, por um de seus filmes mais antigos - O Posto (Il Posto) , realizado em 1961 e que foi lançado no Brasil apenas em VHS. É um filme muito dificil de encontrar nas locadoras. Não preciso dizer, é claro, que no Paris Cinema e Café .... O Posto relata as peripécias de um jovem que chega a Milão na busca de um emprego. O momento é a Itália do pós guerra começando a ressurgir do caos. O filme é quase didático acompanhando nosso jovem na sua entrevista de emprego, nas primeiras tarefas, no encontro com o amor e ai por diante. O Posto e A Árvore dos Tamancos seguem os preceitos do neo-realismo e, principalmente o último, realizado em 1979, deve ser uma dos últimas obras filiadas à esta corrente. Em A Árvore dos Tamancos não existem atores profissionais. O filme foi feito exclusivamente com camponeses do norte da Itália. A época - inicio do século XX. Com precisão e delicadeza vai sendo nos apresentada aos poucos a vida dos camponeses naqueles tempos dificeis. O sistema de produção era muito simples - um dono de terras e de tudo o que estivesse sobre elas, construções, animais, árvores e o grupo de camponeses que faziam todo o trabalho agrícola. A repartição dos ganhos - dois terços de tudo o que fosse produzido ia para o dono das terras o resto para os camponeses. Feudalismo puro. No filme são quatro familias que moram no mesmo agrupamento de casas e cujo dia a dia é apresentado detalhadamente. Como convém a agricultura o período abordado é de um ano completo, onde vamos vendo as estações se sucedendo e as atividades agrícolas correspondentes à cada uma. Apesar das estórias paralelas serem vigorosas o ponto central é um garoto que mostra alguns pendores intelectuais e o padre da vila convence o pai do garoto, a liberar a mão de obra necessária, para que ele vá estudar. E nada é simples. A escola fica a 6 km de distãncia. E ida e volta a pé. Um ano de estrada destroe o único calçado do menino, um tamanco, e o pai, sensibilizado, procura por uma solução. Parece fácil mas a miséria em que vivem não torna nada fácil. A madeira é rara e um novo tamanco não está ao alcance da familia. O pai produz sua solução que dá o nome ao filme e que acaba provocando a parte mais dramática do mesmo. O filme, em suas tres horas, que não são longas, tem um conjunto de cenas brilhantes. A igreja está sempre presente. O catolicismo é forte naquele grupo de camponeses. E é necessário. É isto que segura aquela situação de exploração e dependência. As familia unidas debulhando milho e cantando canções italianas mostram que a felicidade pode ser encontrada nas situações mais difíceis. Numa das familias, o avô procura produzir tomates fora de época para poder obter um preço melhor. E faz escondido de todo mundo. Instintivamente, baseado apenas em sua observação, ele encontra soluções agronômicas corretas. Os diálogos do avô com sua neta , sua cumplice neste trabalho, explicando o que está fazendo e porque o tomate vai produzir mais cedo são maravilhosos. A viagem de lua de mel de dois camponeses à Milão mostram muito rapidamente os conflitos que estão ocorrendo nos centros urbanos. Não existe nenhum discurso político no filme. O casal só evita os policiais e não é influenciado pelo que está ocorrendo. O filme foi apresentado pela crítica como politicamente de esquerda, com uma visão comunista. Não vi nada disto. É um belo filme que mostra com realismo e com imagens belissimas a vida dura dos camponeses e a injustiça que permeia todo o filme. Recomendo para todos. Vocês não podem deixar de ver.
Até a próxima postagem.
OLMI E BACH


Nesta cena o agricultor começa a trabalhar o pedaço de árvore que ele "roubou" do dono das terras e fazer os tamancos para o filho. Tem também aquela parte que eu falo acima, que eu, como agrônomo gostei muito, que é a magnifica aula de agronomia que o avô dá para a neta.

Nenhum comentário: