sábado, maio 16, 2009

A MALDIÇÃO (THIS IS MY FATHER)


Alguém que não gosta de filmes de terror vai ver A Maldição? Estes títulos brasileiros é que, às vezes, são uma verdadeira maldição. Então vamos esquecer a maldição e falar do drama This is My Father. É um filme de 1998, portanto do século passado e que me caiu nas mãos nesta semana. Parece ser uma história de familia contada por irmãos. O diretor e roteirista é Paul Quinn e o ator principal, seu irmão, este mais conhecido, Aidan Quinn. Num papel meio sem sentido, dando um toque de Saint-Exupéry, o amigo John Cusack para ficar ainda mais familiar.
James Caan é Kieran, um professor de high school, viúvo recente, com Fiona, a mãe inválida e incomunicável, vivendo uma profunda depressão. Apesar de todos estes desastres um dos seus maiores sentimentos é não ter conhecido o pai. As histórias de Fiona, que ele ouviu no passado, falavam de um improvável marinheiro francês. A descoberta de uma foto da mãe jovem e de um homem, com uma dedicatória de um tal de Kieran, opa, o mesmo nome, levam o Kieran atual acreditar que está vendo a foto de seu pai. A dedicatória deixa claro que a foto foi tirada na Irlanda.
Kieran resolve percorrer de volta o caminho de sua mãe e com malas e bagagens e mais um sobrinho parte para a Irlanda.
Alguns choques culturais, o do sobrinho com as diretas meninas irlandesas e dele com a rude e católica população local. Encontra, então, uma cigana que conheceu sua mãe e ai passa a rolar, em flash back, a verdadeira história do filme. O relato do amor de Fiona, filha de uma viúva, proprietária de terras, em seus dezessete anos, com Kieran, um pobre agricultor, órfão abandonado quando criança, levemente estranho para os padrões locais. A igreja católica dá as regras, e que regras. A cena de uma confissão é antológica. O padre claramente se delicia com os "pecados" que ele força os paroquianos a contar. É um filme de culpas. Um pouco de Romeu e Julieta na sua parte trágica. Jonh Cusack, na breve aparição de seu personagem, traz um pouco de magia para a história. Um aviador americano que pousa na praia onde estão Kieran e Fiona. A foto que ele tira dos dois é a que Kieran vai encontrar no futuro com a dedicatória de seu pai. O filme é triste, depressivo, mas excelente.
Quando eu comentei com o Cineman ele me contou uma história ainda mais incrivel. Também uma história de familia e que, quem sabe, ele ainda venha a roteirizar.
O avô paterno do Cineman veio da Europa em situação nunca explicada. Quando chegou no Brasil trocou de nome e tascou um "Silva" no final. Porque ele fez isto? Ninguem sabia. Nem a avó do Cineman. Ele era português, ou talvez espanhol, ou talvez basco. Questões políticas, religiosas, passionais? Ninguém sabia. Era marinheiro da marinha mercante. Numa viagem para o Rio e Nordeste, o pai do Cineman ainda não havia nascido, numa enorme tempestade na costa de Santa Catarina, o barco afunda e todos morrem. A avó do Cineman está na praia do Cassino em Rio Grande, quando no meio da noite batem na porta. Ela abre. Um pescador tem uma garrafa nas mãos e na garrafa uma carta. Era uma carta do avô do Cineman se despedindo da familia e dizendo que ia morrer. A garrafa foi jogada ao mar em Santa Catarina e veio parar a não mais de 200 metros onde estava a avó do Cineman. O pescador conhecia a avó do Cineman e sabia onde ela estava parando. Quando achou a garrafa e leu a carta, levou imediatamente para ela. A carta ainda é guardada pela familia. O Cineman durante muito tempo desenvolveu uma teoria que seu avô na realidade havia partido para outras plagas e que o naufrágio tinha sido uma grande armação. A carta, na realidade, havia sido deixada para um amigo para entregar para a mulher após algum tempo. Os sinais: No filho que ia nascer ele colocou o nome de um personagem de Vinte Mil Léguas Submarinas, de Júlio Verne. Exatamente o nome do marinheiro do barco que é destruido pelo Nautilus e que, á beira da morte, é salvo pelo capitão Nemo.
A teoria do Cineman, embora engenhosa, foi destruida pela descoberta dos restos do naufrágio recentemente. Isto não impede, é claro, que o Cineman construa outras versões ainda mais fantasiosas.
Voltando ao filme. Provavelmente vocês não vão encontrar em qualquer locadora mas insistam que vale a pena. Façam como eu, separem um filme mais leve para ver depois. Eu vi o excelente Sim Senhor com Jim Carrey.
Obs. Não deixem de ler os comentários do Buggyman nesta postagem.

6 comentários:

Charles disse...

Cineman, tem que dar mais detalhes desta história do avô. Parece ótima.

Carlos Silva disse...

A história do avô do Cineman tem detalhes que caberiam em um livro. O pequeno navio costeiro, chamado Petrel, construído na Inglaterra e em uma de suas primeiras viagens, teve seu leme quebrado na altura do Rio de Janeiro. Com porões inundados e sem motor (a vapor), o maquinista Olýmpio (o avô do Cineman) escreve a carta a lápis, que colocou no mar, com detalhes dramáticos da história, assinando ao final "Meus pobre filhinhose minha querida mulher, adeus para sempre, teu marido sem vida e todos"!

Mas o mais esquisito trata da carga do navio: garrafas com um estranho elixir, que o site brasilmerculho.com conta:

"João da Silva Silveira, que era filho bastardo do filósofo alemão Friedrich Nietzche, presidia uma seita neo-Nietzschiana, que também era conhecida como a Igreja Universal da Nogueira, Salsa, Caroba & Guáiaco e mundialmente chamada de Guaiacum Sanctum Universalis.

Esta seita, tinha como principal cerimônia transcedental, a ingestão diária de altas doses de um elixir depurativo do sangue, que mesclado com doses igualmente altas de credulidade e desapego material, prometia a cura de todos os males degenerativos da humanidade.

No fim do século 19, a sífilis era a principal ameaça a integridade do Super Homem que a seita desejava formar e contra este mal todas as armas eram de grande valia.

Entre as práticas esotéricas desta seita, constava a "Contemplação do Vazio", que era conhecida como a disciplina dos sentidos visando nada sentir.

O ritual era feito da seguinte maneira: Construía-se porões individuais, cavados seis metros abaixo da superfície. As paredes pintadas em um tom de preto intenso. Permaneciam nestes templos seis semanas a fio, na ausência absoluta de luz e som, ingerindo tão somente o famoso elixir. Com o passar dos dias, pela ação química do guáiaco, as papilas degustativas adormeciam.

Um escurecimento súbito da vista era previsível a partir do sétimo dia. Entre os súditos mais fervorosos, era recomendada a fricção constante, por todas as partes do corpo, de um bálsamo preparado a base de codeína, com a finalidade de amortecer a sensibilidade táctil".

Isso não dá um filme?????

http://www.brasilmergulho.com/port/naufragios/artigos/2002/005.shtml

http://www.naufragiosdobrasil.com.br/especialpetrel.htm

Carlos Silva disse...

Guaiacum Sanctum Universalis!

nedelande disse...

Excelente Buggyman, mas este João da Silva Silveira, o suposto filho do filósofo, será o mesmo que dá o nome ao colégio de Monte Bonito. Este João da Silva era um farmaceutico que deve vivido por volta de 1928, quando foi fundada a escola. Já que estás por ai, pesquisa um pouco.

Carlos Silva disse...

É, na verdade, é o mesmo cara. Um farmacêutico pelotense que fabricava o tal elixir de nogueira. Aliás, a Anvisa acabou de proibir um medicamento com o mesmo nome! Estava em produção até hoje a gororoba...

Agora, a história da seita é meio forçada. Nunca ouvi falar em nada parecido por aqui, mas acho que vale uma pesquisa no Diário Popular da época.

Carlos Silva disse...

a internet, claro, não substitui a pesquisa nos velhos papéis, mas é incrível. No Rio, tinha um prédio chamado Elixir de Nogueira, que seria do João da Silva e tinha estátuas aterradoras na sua fachada (foto em http://fotolog.terra.com.br/luizd:1086)

Ele era maçon e ajudou a fazer o Colégio Pelotense. Cada vez mais acho que a história do ser filho bastardo do maluco alemão, é só uma história maluca...