sábado, agosto 23, 2008

O SOBREVIVENTE (RESCUE DAWN)




Situações limite. O Cineman deve ter passado por várias mas uma ele lembra bem. Na esteira de alguns filmes de pirata vistos na juventude, o Cineman comprou um pequeno barco a vela, um dingue, tomou algumas aulas de vela e lançou-se ao mar, digo... ao lago. Em pouco tempo Cineman singrava o Guaiba com uma espontaneidade que faria inveja ao Capitão Blood. Confiante, procurou outros mares, desta vez a lagoa- laguna de Tramandai. Agua salgada tinha mais a ver com os velhos bucaneiros. Dia de muito vento. O Cineman não percebeu uma situação que ele nunca tinha enfrentado no Guaiba - as ondas tinham direção diferente da direção do vento. No primeiro "jibe" (manobra arriscada em dia de muito vento) o dingue virou e jogou o Cineman longe. O Cineman nada muito mal. A velocidade em que o barco, tocado pelo vento, se afastava, era maior que a velocidade que o Cineman alcançava com sua técnica rudimentar de natação, tentando alcança-lo. Como estava chovendo não tinha mais ninguem na praia, ou seja, esqueça o barco salvador. Ninguem estava vendo o drama que se desenrolava no meio da lagoa. Foi uma situação limite. O Cineman deve ter ficado umas duas horas boiando. "Ei, do colete, tu tá indo pru lado errado, a praia é pra lá". Era a voz de um pescador que se aproximara com seu barco sem o Cineman notar. Para tirar um pouco o suspense tenho que confessar que o Cineman, conforme já se percebeu pela chamada do pescador, estava de colete salva-vidas. Os pescadores rebocaram o dingue para o outro lado da lagoa, o Cineman montou a vela que havia caido e retornou para o seu lado da praia tendo o cuidado de, desta vez, evitar os perigosos "jibes".
Situação limite é o tema de O Sobrevivente. O filme foi lançado há um tempo atras mas eu não me interessei muito. Provavelmente porque é sobre a guerra do Vietnã. Até os gringos, aparentemente, desistiram de fazer filmes sobre o Vietnã. Voltaram ao tema Segunda Guerra Mundial, que foi uma que eles ganharam. Só o Clint Eastwood fêz dois filmes ao mesmo tempo. Mas este é escrito e dirigido pelo Werner Herzog. Um alemão. Ai a coisa muda de figura e vale conferir. Foi o que pensei e foi o que eu fiz.
É uma história real. Dieter Dengler, é um jovem alemão que vai para os Estados Unidos e para ganhar a cidadania e aprender a pilotar, não nesta ordem de desejo, se alista na Air Force. No meio do filme, Dieter conta para seus companheiros de prisão que quando era criança e morava na Alemanha, final da Segunda Guerra, "ele ouve um barulho de um avião se aproximando, abre a janela do sótão e vê aquele pássaro brilhante despejando uma saraivada de balas em sua direção. A cabine do avião está aberta e o piloto está sem óculos. Contato visual, garoto e piloto. Naquele momento, ao invés de entrar em pânico, gritar, se jogar para baixo, Dieter decidiu ser piloto de avião".
Estamos em 1966. A Guerra do Vietnã ainda não começou. Os Estados Unidos desenvolvem uma operação secreta, comandada pela C.I.A., que consiste em bombardear a linha de suprimentos do Vietnã do Norte, no Laos. Esta história já apareceu num filme do Mel Gibson, Air America. A Air America realmente existiu e era uma companhia de aviação, teoricamente transportadora de cargas, mas cujo real objetivo era bombardear o Laos e Vietnã do Norte.
É para onde mandam Dieter. Na sua primeira missão seu avião é derrubado e ele é feito prisioneiro pelos camponeses guerrilheiros do Laos. Na prisão, que é um simples cercado de bambu, Dieter conhece outros prisioneiros americanos. Eles já estão acomodados com a prisão sabendo que não tem como escapar. "- Mas é só uma cerca de bambu" diz Dieter. "-Você ainda não entendeu", diz um dos prisioneiros,"- a prisão é a selva"
Werner Herzog filmou O Sobrevivente na Tailândia, na floresta da Tailândia, que é ali do lado e igual a do Laos. Ele tem estas manias. Filmou Fitzcarraldo na Amazônia, Aguirre idem. Até Nosferatu ele filmou nas mesmas locações que F.W. Murnau havia filmado o original.
Sendo alemão ele poude considerar, também, o ponto de vista dos camponeses do Laos que cuidavam da prisão de Dieter e seus companheiros. São camponeses humildes que acham que, quando aparecem helicópteros americanos, foram os prisioneiros que os avisaram. Não existe a mínima possibilidade deles terem avisado alguem. Mas vá meter isto na cabeça dos carcereiros. Ameaças, torturas, redução da comida é o resultado de qualquer ruido que se assemelhe à um avião ou helicóptero.
Dieter organiza uma fuga e a fuga é uma odisséia pela floresta do Laos. E o filme transmite com imensa realidade a dificuldade de se movimentar na floresta tropical. Chuva, cobras, mato impenetrável, rios caudalosos, vietcongs. Werner havia feito antes um documentário com a participação do verdadeiro Dieter, com narração de Dieter, que deu origem a este filme.
No final, nada patriótico, quando Dieter é salvo (se ele fez o documentário com Werner Herzog é claro que ele foi salvo), frente a todos os seus companheiros do porta aviões, ele faz um discurso memorável. "- Encha o que estiver vazio, esvazie o que estiver cheio e coce quando estiver comichando."
Imperdivel. Atenção para a trilha musical. Nada convencional para este tipo de filme.
Até a próxima postagem.


2 comentários:

Anônimo disse...

Me despertou curiosidade, vou buscar este filme!

nedelande disse...

Acho que vais gostar, Ivan. Depois de ve-lo coloca teu comentário aqui no blog.