terça-feira, dezembro 25, 2007

CAIXA DOIS


Eu não vi o Caixa Dois no teatro. Sei que ficou anos em cartaz e deve ter reforçado bastante o caixa um (e talvez o caixa dois) do Juca de Oliveira. No teatro o Juca de Oliveira, como dono da peça, pegou para si o papel do presidente do Banco Federal e colocou o Fulvio Stefanini como gerente do banco demitido. Já no filme o Stefanini é promovido de gerente a presidente do banco. Eu já teria feito a inversão de papéis do Juca e do Stefanini no teatro e teria trocado o título para "Recursos Não Contabilizados".
O filme, mesmo sem ser algo especial, é bem interessante e atual. O Banco Federal (uma leve insinuação a Caixa Federal?) está lançando uma nova linha de crédito para os aposentados (nova alusão a Caixa?) e pelo perfil do presidente do banco, Luiz Fernando (Fulvio Stefaninini) já temos uma primeira leve crítica ao programa de financiamento aos aposentados com desconto direto na folha. Aliás as críticas são leves em todo o filme. A corrupção, que é o tema base, é tratada em tom de chanchada. Mas continuemos.. o presidente do banco recebeu uma importância de R$ 50 milhões que não pode, obviamente, ser contabilizada. Ele acerta com seu doleiro oficial a remessa para um banco de Zurich. O doleiro lhe dá um cheque no mesmo valor que deverá ser depositado na conta de um laranja. A operação não é bem explicada. Quem quiser saber como esta coisa funciona em detalhes é só perguntar para algum deputado conhecido ou dirigente partidário.
Ao mesmo tempo o Banco Federal está informatizando suas agências e isto resulta na demissão de 800 (ou 600?) funcionários. Um dos demitidos é Roberto (Daniel Dantas), gerente de uma pequena agência. Roberto é funcionário modelo. Veste a camisa do banco como se fosse a do Flamengo. Preocupado com redução de custos inventou um processo de reduzir o consumo de copinhos de plástico para o cafezinho que é seu cartão de apresentação. Até hoje comenta um encontro com Luiz Fernando num seminário da empresa, onde este, na mesa do café, lhe dirigiu a palavra: "- Me passa a manteiga". Apesar desta ficha impressionante, Roberto é um dos demitidos. Roberto é casado com uma professora estadual que dá a primeira, e única, lição de moral que vemos no filme. Procurada por um pai de aluno, na cara que é um traficante, que lhe oferece dinheiro para passar o filho de ano, recusa ou melhor faz a contraproposta: "-Vamos fazer isto na frente do seu filho e eu vou dizer que o pai dele acha ele tão burro, tão burro, que tem que pagar para ele passar de ano". O traficante vai embora. É fácil recusar propina. Just say no. Corte para a sala da diretoria do Banco Federal - Luiz Fernando, acerta com sua secretária gostosona, Angela (Giovanna Antonelli), para ela servir como laranja. Ela aceita, não só pelos R$ 700 mil prometidos, mas porque, no futuro, quando explodir a negociata, ela poderá ganhar mais uns trocados posando nua para a Playboy. Mas ninguem pode prever até onde vai a imbecilidade de um cara formado em Harvard (por favor, fique claro que não estou fazendo insinuações ao Prof. Mangabeira Unger). Romeiro (Cassio Gabus Mendes), o cara formado em Harvard, recebe a incumbência de depositar o cheque no banco em nome da Angela. Ele comete um erro muito simples, deposita na conta de outra Angela, ou melhor de Angelina, a professora lá de cima, mulher de Roberto, o gerente demitido. Está montada a farsa. Não vou adiante porque este não é um blog que conta o fim do filme. Nos extras do DVD existem entrevistas com os atores e o diretor do filme, Bruno Barreto. Na entrevista de Barreto uma pérola: "- A corrupção é dependente de circunstâncias e de principios". O pior é que ele dá a entender que dependendo das circunstâncias não existem principios. É o lema do filme. Todos tem seu preço mas alguns estão em liquidação. E o filme apresenta exatamente isto e patrocinado pela Petrobrás. Podemos dar certo em algum momento?
Até a próxima postagem.

2 comentários:

Anônimo disse...

Prepare-se, Cineman, que a Petrobrás está preparando alguns anúncios bem interessantes!

nedelande disse...

Imagino Pobre Pampa. Deve ser qualquer coisa parecida com o dois mais um do Banco do Brasil. Mas aproveitando, recomendo que tu vejas este filme. Ele é bem interessante como diversão. Não fica esperando muita coisa como crítica social porque ele é bem superficial. Mas tem uma idéia central que é bem diferente do que outros filmes tem apresentado. Aquela estória de políticos corruptos e povo bonzinho e explorado.A mensagem é que nessa nossa mãe pátria só não é corrupto quem não tem oportunidade de ser.