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Este filme saiu já há algum tempo. Não muito. Mas eu não havia visto nem comprado porque todas as críticas que li não eram muito simpáticas ao filme. Depois vi o trailer e gostei. Não pode ser tão ruim assim, pensei. Comprei o filme e vi ontem a noite. Primeira coisa - gostei muito. É o primeiro filme, e único até agora, dirigido por Andy Garcia e um filme que ele vinha preparando há pelo menos quinze anos. Um filme sobre sua Cuba, aquela que hoje é de Fidel.
O filme é baseado em um texto do escritor cubano, Guillermo Cabrera Infante, morto em 2005. Guillermo que também era critico de cinema, viveu em Cuba no período de Batista e de Fidel. Comunista, não concordou com o rumo que Fidel deu a revolução e, de certa forma, mostrou isto no seu roteiro. No meio do filme um personagem pergunta a outro: "- Mas Fidel é comunista?" e o outro com um sorriso ironico "- Fidelista".
Andy Garcia interpreta Fico Felone, um dono de cabaret, muito parecido com Rick de Casablanca para não ser proposital. Politica não lhe interessa, só o seu cabaret - El Tropico. O Cabaret e a familia. O pai um professor da universidade de Havana, a mãe, dois irmãos e suas respectivas mulheres e um tio solteiro produtor de fumo e charutos. A corrupção e a violência do governo de Fulgencio Batista é apresentada claramente na primeira parte do filme. Mas a revolução já está apontando com Fidel Castro em Serra Maestra. Em Havana um grupo de intelectuais, comandados por um misterioso lider que depois vamos saber, é Luis, um dos irmãos de Fico, tenta assassinar o ditador.Da mesma forma que Rick em Casablanca, Fico aos poucos passa a assumir uma posição política. Só que ele é levado a isto em duas situações. Uma com Fulgêncio e outra com Fidel. Ele aprende logo que ditadura é ditadura, tanto faz qual é o discurso do ditador. Um personagem que aparece bastante no filme é Che Guevara. O filme apresenta uma particularidade de Che pouco conhecida, ou divulgada - o assassino frio. Uma cena: Che passa por um soldado de Fulgêncio ferido e ordena para um comandado seu que está ao lado: "- Degola" e em seguida ao passar por outro ferido, saca o revólver e o mata a sangue frio. Outra ótima - Che doutrina um companheiro não muito brilhante, sua forma de falar é rebuscada e ininteligível para o outro. Mas Che acaba concluindo com uma máxima que nós conhecemos muito bem. "- O fim justifica os meios, companheiro". Um outro personagem real que aparece no filme é Mayer Lansky (Dustin Hoffman), o gangster judeu, amigo de Lucky Luciano e Bugsy, que explorava o jogo na Cuba de Fulgêncio. Lansky tenta convencer Fico a abrir seu cabaret para o jogo. Fico não aceita a proposta embora Lansky não seja um homem que saiba lidar bem com rejeição. Uma bomba explode no El Tropico matando a dançarina e namorada de Fico. A origem do atendado parece ser óbvia mas no final do filme, já nos Estados Unidos,Fico encontra Lansky novamente e ele lhe assegura não ter ordenado o atentado, que aquele não é seu estilo. Como Fico passa a trabalhar com Lanky fica claro que ele acreditou. O filme então, aparentemente, está relacionando o atentado com os Comandos de Acción e Sabotage, grupo ligado a Fidel, que suspeita-se tenha praticado vários atos de terrorismo em Havana.
Andy Garcia não perde muito tempo com as batalhas dos guerrilheiros de Fidel com Fulgêncio. Não é isto que ele está tentando contar. A cena de passagem de um governo, digo, de uma ditadura para outra, é simples e curta, um patético discurso de Fulgêncio na porta do avião que vai levá-lo para o exílio.
Não posso deixar de falar de um estranho personagem, The Writer (Bill Murray), que se apresenta como o homem que não tem nome. Durante todo o filme ele se deleita em dizer frases enigmáticas possivelmente significando alguma coisa que eu não me dediquei a interpretar e que sempre está ao lado de Fico. Um crítico que li, afirma que o escritor Guillermo Infante colocou este personagem para representá-lo no filme. É uma boa teoria. Mas o nosso querido Bob sempre é bem vindo.
Outra cena maravilhosa. Fico está ensaiando sua banda e seus dançarinos quando irrompe uma mulher dizendo ser a ministra dos bons costumes ou da cultura, não lembro. Ela quer que Fico elimine o saxofone da banda por ser um instrumento imperialista. (Sempre achei o trombone de vara, por sua visual agressividade, muito mais imperialista). Fico tenta explicar que o criador do saxofone foi um belga chamado Sax mas não adianta, a ministra diz que os belgas também são imperialistas e que exploram os companheiros africanos. O sax é banido. Mais tarde Fico vai ter o seu cabaret nacionalizado e, não sabendo fazer outra coisa, especialmente colher cana, decide abandonar Cuba. No aeroporto outra cena interessante. Fico é obrigado a deixar anéis, relógio, só consegue passar com sua filmadora 16 mm. "-Para que você quer uma camâra?" lhe pergunta o soldado da alfândega. "- Para filmar a decadência americana" responde Fico.
Não falei de romance mas o filme tem muito. Fico é apaixonado pela viuva de seu irmão e é correspondido. Mas Aurora (Ines Sastre) tornou-se a Viuva da Revolução e assume esta missão. Quando Fico quer leva-la para os Estados Unidos ela rejeita mas pede que ele fique."-Você acha que é uma causa perdida?" pergunta Aurora. "-Não, é uma cidade perdida".
Certamente falei demais mas são duas horas e vinte de filme portanto acho que tenho uma justificativa. Não percam. Muita música cubana, muita dança. O fim do filme é uma homenagem de Andy Garcia a Rosa Purpura do Cairo de Woody Allen.
Bom filme e até a próxima postagem
TRAILER DE LOST CITY
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2 comentários:
Outra história real que aparece no filme é a do sequestro do piloto argentino, Juan Manuel Fangio, pela guerrilha cubana. Fangio aparece no cabaret de Fico logo após ter sido solto pelos guerrilheiros.
Essa história do saxofone é verdadeira. Os revolucionários consideravam o sax um instrumento burguês.
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