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Final dos anos sessenta. Eu tinha me formado em agronomia e agora tinha os meus dois irmãos seguindo meus passos. O mais velho deles me procura dizendo que queria dar uma guinada na vida, parar os estudos e colocar uma casa noturna em Pelotas. Ninguem estava apoiando a idéia e ele precisava financiamento. Ele foi convincente. Contra a opinião de todos fiz um pequeno empréstimo e surgiu a SUCATA, que durante muito tempo foi a melhor casa noturna de Pelotas. Depois, para a felicidade de nossa mãe, ele voltou para a agronomia e concluiu, com louvor, o curso. Mas exatamente no período que a SUCATA estava funcionando aparece em Pelotas um produtor cinematográfico com um projeto de um filme de ficção cientifica - UM HOMEM TEM QUE SER MORTO. Na realidade o cenário futurista era um disfarce do produtor/diretor para poder levar avante sua critica ao regime ditatorial. A cidade passou a viver o filme. No tempo das cabeleiras, cabeças raspadas começaram a fazer parte da paisagem. Eram os extras de Um Homem tem que Ser Morto. A SUCATA foi escolhida como um dos cenários e um cenário que não tinha nada a ver com ela - os porões da ditadura. Ali eram torturados os dissidentes do governo totalitarista. Como estavamos em plena ditadura claro que o filme não pode ir muito longe. Nem o Davide Quintans, o produtor/diretor que eu falei lá em cima, tem uma cópia do Um Homem Tem que ser Morto. Eu conheci o Quintans muito tempo depois quando ele apareceu no banco de desenvolvimento que eu trabalhava para financiar um outro filme - Meu Doce Vampiro - que acabou não passando do roteiro. Ontem, depois de muito tempo, encontrei o Quintans e ele, além de me prometer fotos das filmagens na SUCATA que ele havia resgatado, me falou de seu novo filme - A ILHA DOS ESCRAVOS. A ILHA DOS ESCRAVOS é uma coprodução de Espanha, Portugal, Cabo Verde e Brasil. Quintans é o co-produtor do lado do Brasil. O filme ainda não foi lançado e tem Zezé Mota e Milton Gonçalves entre os atores brasileiros. O Diretor é o português Francisco Manso, de quem nós já vimos o muito bom - O Testamento do Senhor Nepomusceno. O cenário brasileiro foi em Alagoas, na cidade de Marechal Deodoro. Mas poderia ter sido no Rio Grande do Sul. Foi a primeira alternativa trabalhada pelo Quintans, que há muito tempo se adotou como Porto Alegrense. Eles queriam só apoio logístico. Nem isto conseguiram, parece que aqui é pecado apoiar alguém que não faça parte daquela panelinha que vocês conhecem. É uma espécie esquisita de reserva de mercado que independe do partido que estiver no poder. Eu não entendo. Acho que ninguém entende.
Até a próxima postagem
Fotos da filmagem de Um Homem Tem que Morrer na SUCATA
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