sexta-feira, março 28, 2008

NOME DE FAMILIA


A tradicional Biblioteca Pública de Pelotas além de sua arquitetura maravilhosa tinha, e tem, um magnífico acervo de grandes obras da literatura mundial. Lembro que boa parte das minhas férias colegiais se resumiam a ir pela manhã na biblioteca, retirar um livro e trocá-lo por outro no dia seguinte. Os coleguinhas mais abastados iam para a praia do Cassino ou para a Barra do Chui mas eu, talvez, estivesse indo para lugares mais distantes e mais interessantes. Entre os romances e contos que li, dois foram marcantes, um francês, A Bola de Sebo, de Guy de Maupassant e um russo, O Capote, de Nicolai Gogol. Dizem que O Capote deu origem a toda moderna literatura russa. Gogol era quase um iletrado quando vai para Moscou e começa a trabalhar como funcionário público. Esta experiência é a base do conto onde ele ironiza toda a burocracia do regime czarista ao mesmo tempo que de forma muito crua expõe a miséria do povo russo. Lembrei também de um filme do Kurosawa, que eu já comentei aqui, Viver, que também aborda a burocracia estatal japonesa. Os japoneses aprenderam alguma coisa, os russos parece que ainda não. Regimes políticos?
Falo de Gogol porque assisti agora um filme admirável da diretora indiana Mira Nair - NOME DE FAMILIA onde Gogol está presente. Ele é o nome que um casal de indianos que se muda para os Estados Unidos dá para seu primogênito. O rapaz quando cresce passa a detestar o nome e, como diz seu pai, "- Aqui nos Estados Unidos pode-se tudo", muda para Nicolas, não se afasta muito porém, poque Nicolas é o primeiro nome de Gogol. Para americanizar mais ainda ele usa o diminutivo Nick. O pai explica para o filho que ele não lhe deu este nome apenas porque gostava dos contos de Gogol, existe uma razão maior. No inicio do filme nós vemos o pai, então um jovem, viajando de trem e lendo O Capote. Um velho que viaja no mesmo trem pergunta se ele viaja muito. Ele responde que sim, conhece toda a região. O velho então diz que está se referindo a viajar mesmo, ir para outros países, conhecer outras culturas. O rapaz diz que os livros lhe bastam, ele viaja para qualquer lugar com eles. Lembram? Era a mesma coisa que eu achava quando guri frequentador da Biblioteca Pública de Pelotas. O velho diz que não é a mesma coisa e neste momento o trem sofre um acidente. Muitas mortes. O rapaz se salva. Os indianos são fanáticos pelo destino. Ele vê a mensagem e faz sua grande viagem, mudando-se para os Estados Unidos. Mais tarde, formado em arquitetura ele volta para a India para buscar uma esposa. Existe uma disputa com outros dois pretendentes mas ele acaba sendo o escolhido. O filme mostra muito da cultura indiana e traça uma comparação com a cultura americana, em especial quando a história vai sendo conduzida do ponto de vista dos dois filhos do casal que já são mais americanos que indianos. Para quem aprecia um bom filme é uma recomendação que faço e principalmente para aqueles que apreciam a cultura indiana e querem entender um pouco as modificações que ocorrem naquele país.
Até a próxima postagem
Se quiserem relembrar O CAPOTE, cliquem aqui

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