terça-feira, agosto 07, 2007

KINKY BOOTS - FABRICA DE SONHOS


O nome que deram ao filme no Brasil não tem nem de longe a malicia do nome em ingles. Kinky tem várias traduções mas ligado ao "boots" remete para B&D, boundage and domination, ações sexuais não muito convencionais estreitamente ligadas a couro, algemas, botas, coleiras e chicotes. Mas Kinky Boots, do diretor Julian Jarrold, é um excelente filme, de humor refinado como toda comédia inglesa que se preza. E um filme que, sem dúvida, podemos usar numa aula de administração. Aquilo que eu já tenho falando em diversas postagens - o uso do cinema como metodologia de ensino. Numa pequena cidade ao norte de Londres, Northampton, existe uma fábrica artesanal de sapatos. Charlie Price (Joel Edgerton), filho do dono, foi criado ao velho estilo empresarial, passando por todas as funções dentro da empresa. O pai o estava preparando para assumir o negócio como os outros pais da familia Price já haviam feito antes. Mas isto não era o que Charlie queria e o pai, cabisbaixo anuncia aos funcionários que o herdeiro não vai continuar na empresa porque vai trabalhar com marketing em Londres. E marketing soa muito feio. Charlie recem está se acomodando em Londres com sua noiva quando recebe a noticia da morte do pai. Volta e conhece a realidade da empresa. Completamente falida. Tentando salvar alguma coisa ele vai a Londres vender sua produção. Descobre a globalização. Os sapatos checo-eslovacos custam a décima parte dos seus sapatos artesanais. "- Pobres dos donos destes sapatos, eles não duram um ano, enquanto os nossos são para toda vida" diz Charlie. O comprador responde: "- Sim duram apenas um ano e eles tem que comprar outros, que ótimo não?". Desiludido Charlie volta para Northamptom e começa a despedir seu pessoal quando é confrontado por uma funcionária, que imediatamente sabemos que vai ser importante na estória, que diz "- Você é destes empresários que fica dizendo o que é que vamos fazer? e não faz nada. Trate de achar um nicho para esta empresa" Ai começam as lições. A fábrica é pequena, os custos são altos, mas ela pode produzir um produto diferenciado. Quem quer um produto diferenciado? Charlie, em Londres, defende uma suposta mulher de um assalto. Não é uma mulher. É Lola (Chiwetel Ejiofor), uma dragqueen dona de um cabaré de.. dragqueens. Quando Lola se queixa que as botas de mulher que ela usa não suportam o peso de um homem Charlie vê o seu nicho de mercado. E pelo que se sabe de Londres.. que nicho. De volta a Northamptom Charlie põe seus funcionários a trabalhar e produzem o primeiro prototipo. Mas faltou a Charlie um dos primeiros conceitos da administração. Saber exatamente o que o cliente deseja. Lola odeia as botas. Para começar as botas são cor de vinho. Que horror... Vermelho é a cor que tem que ser. E os saltos.. horrorosos..quadrados, masculinos. Os saltos tem que ser altissimos e finissimos. Colocando o seu R&D a trabalhar chegam a solução - Uma fina placa de aço poderá dar a sustentação necessária ao altissimo salto. Lola se muda para Northamptom e aos poucos os conservadores operários vão se acostumando com sua presença. Um diálogo é notável. A velha senhora, dona da pensão onde está Lola, pergunta: "Mas você é homem ou mulher?" Lola se volta preparada para enfrentar o preconceito e responde "- Homem". A dona da pensão sem dar muita importância responde: "- É só para saber como eu deixo a tampa do sanitário". Mais administração.. A forte exigência de Charlie para uma mostra em Milão produz desconforto e desmotivação no grupo. Mas um truque de Lola faz os operários perceberem a situação e se entregar de corpo e alma ao serviço.
A feira de Milão é um sucesso é claro. Um destaque na interpretação de Chiwetel, magnifico, sem em nenhum momento ridicularizar o seu personagem. E um grande talento no palco quando cantando e dançando. No DVD ainda temos alguns extras muito interessantes que mostram que a fábrica existe. Que é uma estória real. E melhor ainda.. que o filme foi feito numa fábrica artesanal de sapatos (que parou durante uns vinte dias para a filmagem) e com boa parte dos extras formados pelos próprios funcionários. E a boite de drag queens idem, com drag queens de verdade e Lola. Absolutamente imperdível. Uma jóia perdida no meio das locadoras mas que no Paris Cinema e Café você encontra em destaque.
Até a próxima postagem.
Um pedacinho do show de Milão

3 comentários:

Anônimo disse...

Vi o filme. Sem dúvida dá para usar nas minhas aulas de administração.

Priscila Fernandes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Priscila Fernandes disse...

Muito bom o filme. O assunto abordado faz-nos pensar em que podemos mudar muita coisa no cotidiano. Agradeço ao "Simon - Lola" pela invensão do modelo de sapato "Drag Queen", pois minha altura necessita de saltos bem altos... Minha aula de Plano e Elaboração de Negócios será um sucesso.