DEJA VU

O que fazer para gostar de Deja Vu? Apesar da recomendação de todos os manuais do roteirista, Syd Field e companhia - "o filme deve surprender o espectador" - eu acho que eles acabam fazendo exatamente o contrário. O típico filme americano entrega exatamente o que o espectador espera. Então o truque, para o espectador do filme diversão, está em não esperar algo que não vai acontecer. Isto nos leva para a primeira recomendação em Deja Vu: não esperem um filme de ficção cientifica.
O pessoal que gosta de ficção cientifica já tem os seus padrões estabelecidos em anos de leitura de Isac Asimov, Arthur C. Clarke, Ray Bradbury e tantos outros. Deja Vu não tem nada a ver com estes padrões. Então podemos esperar um filme de terrorismo? Afinal um terrorista explode um barco com quinhentas e tantas pessoas a bordo nos primeiros dez minutos de filme. É, eu acho que pode-se esperar um filme de terrorismo. Mas com ressalvas. O terrorista é americano, branco, anglo-saxão e protestante. E mais. Um dos últimos papéis do ator que interpreta o terrorista, Jim Caviezel, foi justamente o de Jesus Cristo. Talvez ai uma intencionalidade da dupla diretor/produtor pois terroristas, tal qual Jesus, se sacrificam por uma idéia, cumprindo a missão de mudar o mundo. Uma pequena diferença nos métodos, é claro. Nosso terrorista quer recuperar os antigos valores americanos. Não sei o que eles quiseram dizer com isto. Para mim os americanos hoje são mais americanos do que jamais foram. Mas este é o propósito que a dupla diretor/produtor atribuiu ao nosso terrorista e não convem discutir. A outra intencionalidade - Como tanto o diretor, Tony Scott, como o produtor, Jerry Bruckheimer, não se arriscam a entrar em terrenos de discussão moral, ética e política, o filme procura, diferente da maioria, ser politicamente correto. Não coloca um árabe no papel de terrorista. Então tenho minhas dúvidas em classificar o centro do filme como uma estória de terroristas. Agora, não tenho nenhuma dúvida em catalogar Deja Vu como um romance. Um romance ao estilo Laura ou Em Algum Lugar do Passado. Vamos à um sumário básico da estória sem estragar o prazer de quem quiser ver. O filme tem Denzel Whashington no papel de um policial do Departamento de Armas, Alcool e Tabaco de New Orleans, Doug Carlin. Após a explosão do barco - uma cena de cinemão, com explosões e corpos voando para todos os lados - Doug participa do mutirão investigatório montado para o caso. Um agente do FBI, interpretado por Val Kilmer, muito gordo e quase irreconhecível, nota as qualidades sherloquianas de Doug e o convoca para trabalhar num grupo especial do FBI. O grupo trabalha num projeto experimental que através do uso de satélites consegue ver o que aconteceu exatamente 4 dias e meio antes. E se vê tudo. Não existem paredes. É um enorme buraco de fechadura. Tem uma cena onde Claire Kuchener (Paula Patton) está sendo observada e se prepara para entrar no banheiro. Todos ficam grudados na cena de grande relevância para resolver o atentado. A única mulher na sala de observação não se contem: "- Não sei o que isto vai ajudar, acho que não precisamos olhar esta mulher tomar banho". Claro que nenhum dos demais concorda com ela. Claire é a personagem central. Ela morreu pouco antes do atentado e em principio não tem nenhuma relação com o mesmo, mas o esperto Doug descobre no cadáver vestigios dos produtos usados pelo terrorista no atentado. " -Se solucionarmos o assassinato teremos o terrorista." Diz Doug e isto foi o que impressionou o FBI e acabou levando-o para o grupo da fechadura.
Logo em seguida Doug descobre que a turma do FBI não contou toda a verdade. Não se trata de uma observação de fatos que ocorreram dias atras, mas de uma observação em tempo real devida a conhecida dobra espacial da Jornada das Estrelas. Doug nesta altura já está apaixonado por Claire (lembram de Laura?) e resolve salvá-la e, se der, salvar também os quinhentos e tantos passageiros do barco. Nunca ninguem tentou antes fazer a viagem ao passado usando a dobra espacial. Doug conseguirá?
Como eu disse, esperem apenas uma boa diversão, cenas muito bem filmadas como é o estilo de Tony Scott, muita ação, destaque para uma corrida espetacular com um jeep onde Doug corre no tempo atual mas segue o carro do terrorista no tempo passado. Enfim um bom filme de aventura e romance.
Até a próxima postagem